segunda-feira, 17 de novembro de 2025
A gente vai embora, e tudo fica. Ficam os planos que adiamos, as tarefas que deixamos para “depois”, as promessas que nunca cumprimos, as dívidas, as prestações do carro comprado para agradar olhos alheios. A gente vai embora sem guardar a comida na geladeira, sem recolher a roupa do varal, sem terminar o que considerávamos urgente. E, num instante, tudo aquilo que parecia tão grande se revela pequeno. O mundo continua, as pessoas seguem, as rotinas retomam seu curso. A gente vai embora e os problemas que carregávamos como pedras se desfazem no ar. As brigas, o orgulho, as mágoas que apertávamos no peito só serviram para afastar quem nos queria bem. Descobrimos, tarde demais, que boa parte do que chamávamos de dor morava dentro de nós, alimentada pela importância que dávamos ao que não merecia tanto. A gente vai embora e o mundo não para. Ele segue indiferente, mesmo quando acreditamos que nossa ausência deixaria um vazio enorme. O cachorro encontra novo colo, o companheiro refaz o caminho, outras mãos seguram aquelas que um dia seguramos. O cargo é ocupado por outro, nossos objetos são distribuídos, vendidos, esquecidos. Nada espera a nossa morte. E talvez seja justamente por isso que tantos vivem como se a vida fosse interminável. Se lembrássemos, diariamente, que um dia vamos embora, talvez escolhêssemos hoje a melhor roupa. Talvez pedíssemos perdão antes que o orgulho nos paralise. Talvez disséssemos eu te amo sem medo de parecer frágeis. Talvez dançássemos mais, ríssemos mais, sentíssemos o cheiro do mar sem pressa nenhuma. Se lembrássemos que o tempo é curto, buscaríamos menos dinheiro e mais presença. Menos aparência e mais verdade. Desde o primeiro segundo, caminhamos em direção ao fim. E, a cada dia, vamos embora um pouco, deixando pelo caminho chances de viver com mais leveza, mais amor, mais sentido. Porque no final é assim: a gente vai embora. E só permanece aquilo que fizemos com amor.
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