Texto maravilhoso escrito pela Luly Lage do blog "Sweet Luly" em resposta a reportagem feita pela Record sobre colecionadores de bonecas.Vale muito a pena tirar dois minutinhos para lêr!!
Quando eu era criança passava uma parte muito significativa do meu
tempo brincando de Barbie, era minha atividade favorita na vida sem
sombra de dúvidas, e isso se estendeu pelo início da adolescência
também, na fase clássica de ter vergonha de admitir isso pras minhas
amigas. “Essa vai ser sua última boneca, Lulu!” foi uma frase que minha
mãe me disse várias vezes nesse período, porque ao mesmo tempo que ela
tinha medo de que eu continuasse muito “infantil” não queria me poupar
do que eu mais gostava quando pudesse, e não poupou. Mesmo depois que eu
cresci e parei de realmente brincar, ou seja, sentar no chão e criar
histórias com elas, isso continuou sendo recorrente, até meu presente
por ter passado no vestibular foi uma Barbie, a “Princesa Luciana”,
porque tinha meu nome e tudo mais. Pouco tempo depois eu comecei a
colecionar Pullips e similares e isso qualquer um que me conhece um
pouquinho sabe, elas são parte frequente na minha vida que faço questão
de não esconder e viver intensamente, vira e meche posto foto das
danadas ou mesmo das miniaturas que “complementam” esse universo delas.
Já são 7 anos disso, 7 anos sem receio de admitir que bonecas em escala
1/6 de vários tipos são uma grande paixão minha, e desde o início eu já
perdi as contas de quantas vezes eu tive que explicar que aquilo não me
fazia mal, que eu não sou louca frustrada com a vida, que nos nossos
encontros ninguém senta pra fazer chazinho “mamãe e filhinha” (e se
fizesse também, hunf, azar o nosso!), que é um hobby como qualquer
outro. Perdi as contas de quantas vezes tive que escutar, mesmo que a
pessoa tivesse completamente encantada com elas, essa típica pergunta
que quem faz até sente medo da resposta: “Mas, no final das contas, você AINDA brinca de boneca? É isso mesmo?”.
É engraçado porque os “costumes infantis” que a sociedade julga ser
“de menino” que são mantidos todo mundo lida como se fosse normal, mas
os “de menina” não. Na minha cabeça a separação não devia existir,
qualquer criança poderia brincar do que quisesse, mas na vida real ainda
existe esse tipo de direcionamento, e o tempo que é aceitável continuar
gostando da coisa também é diferente. O menino crescer e continuar
gostando de futebol, video game, carros e afins tudo bem, é normal,
conheço vários homens que colecionam miniatura, Lego, aeromodelos,
action figures, toy art, a lista é tão extensa que nem vale a pena
continuar. Mas e se a menina continua gostando de bonecas? Ah, aí é um
problema! É ridículo, ela já passou da idade, devia estar pensando em
namorar ou algo assim, vê se pode uma marmanja gastando dinheiro com uma
coisa dessa, não tem louça pra lavar não? Eu já cheguei no ponto de
ouvir da boca de parentes que COLECIONAM CARRINHOS que isso não era
legal. E apesar de estar absolutamente nem aí para a opinião dessa gente
ainda assim eu me questiono POR QUE não é legal? Em que momento minhas
bonecas feriram a integridade de alguém? De que maneira o fato de eu
comprar vestidos pra elas, e não para mim, ofendeu tão profundamente as
pessoas? “Você tem dinheiro suficiente nessas bonecas pra comprar uma
moto”, e de que isso adianta se foi ao gastar com elas que fiquei feliz?
Alguém consegue, por favor, me explicar isso?
Eis que esse domingo minha mãe me chamou correndo para assistir televisão com ela porque estava passando uma matéria sobre o assunto na Record,
que fiz questão de assistir inteira. O resultado? Bom, de acordo com o
que vi ali nós somos loucas desequilibradas, vivemos fora da realidade,
precisamos de apoio psicológico ou psiquiátrico e temos “falta de
criança”. E como se não fosse ruim o suficiente esse preconceito externo
nos julgando rolou o interno também: as próprias colecionadoras de
bonecas menores ficaram ofendidas por terem sido colocadas no mesmo
“patamar” de um casal que trata suas reborns, que são bebês super
convincentes em tamanho real, como se fossem seus filhos. Gente, é sério
isso? Ok, algumas coisas eu pessoalmente não acho legal, assim como em
todos os assuntos da vida, mas quem sou eu, vocês ou mesmo um canal de
televisão para julgar como as pessoas vivem ou deixam de viver sem
causar nenhum mal a ninguém? Por favor, é diante de situações assim que
nós devemos nos juntar para dar força e mostrar a todos que o que nos
faz bem é única e exclusivamente da nossa conta! Isso me fez perceber
que o preconceito é tão grande que até quem sofre com ele pode sentir, às vezes.
E quer saber a resposta pra tal pergunta tão repetida? Eu brinco de boneca SIM!
Pode não ser da maneira “tradicional” com a qual brincava quando ainda
era uma mini Luly, mas dou nomes a elas, deixo que elas ganhem sua
personalidade, adoro criar histórias, me divirto HORRORES fotografado
essas cabeçudas e outro dia eu e uma amiga que “arrastei” pra esse mundo
comemoramos o aniversário do Reginald, Isul que ela me deu de presente,
com bolo e muita risada, só pra curtir mesmo. Isso não me impede de
trabalhar, estudar, ter uma vida saudável e nem de me relacionar com as
pessoas, pelo contrário! Muitos dos grandes amigos que tenho hoje
conheci foi por causa delas, mesmo que beeeeem indiretamente, então o
resultado final foi totalmente positivo, e vai continuar sendo! E se
ainda assim rolar a encheção de saco a gente apela pro clássico “quem
gasta dinheiro com isso sou eu, e não você” e sai sorrindo bem prontinha
pra continuar amando e se encantando com foto de outros colecionadores
nas internets da vida, porque eita atividade gostosa que lava a alma e inspira!
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