segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Despedida


E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir;foi triste.Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste,talvez tenha sido melhor assim,uma separação como as vezes acontece em um baile de carnaval;uma pessoa se perde da outra,procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão.É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito;depois apenas aconteceu que não se encontraram mais.Eles não se despediram,a vida é que os despediu,cada um para seu lado;sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza,e também uma lembrança boa;que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades;nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio,e de sossego; e um indefinível remorso;e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram,mas não se perderam,porque ficaram em nossa vida;que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão;mas que essa solidão ficou menos infeliz:que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões;se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras;com flores e cantos.O inverno ;te lembras;nos maltratou;não havia flores,não havia mar,e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah,talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto,é possível que não adiantasse nada.Para que explicações?Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes;o silêncio torna tudo menos penoso;lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra:adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo...

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