A década de 60, foi um período importante para a maior e melhor indústria de brinquedos que temos no nosso país, a Estrela, pois foi nesse tempo que, a marca sinônimo de pioneirismo ampliou a linha com diversos tipos de produtos como nunca antes. Tão gloriosa essa época, que patrocinava e tinha programas em emissoras de TV e rádio, era presença constante em jornais, revistas, folhetos e circulares. Em certos momentos, a empresa chegou a ser o 14° anunciante do país, trabalhando com as maiores agências brasileiras. Quem aí não guarda na memória ou já ouviu falar no saudoso programa voltado para o público infantil Pim Pam Pum? O espetáculo foi estreado em 1962 e exibido pela extinta TV Tupi, com o objetivo inicial de comemorar o Jubileu de Prata de 25 anos de fundação da Estrela (1937-1962). A atração infantil divertia e educava as crianças, enquanto apresentava exibições de palhaços e séries "enlatadas" (termo habitualmente usado para se referir a transmissão de filmes/séries/novelas estrangeiras) de sucesso, como da "Minha Amiga Flicka". No entanto, a parte que mais prendia os olhos das crianças no programa, com certeza era o de sorteio de brinquedos Estrela, de preferência aqueles que estavam em alta. Enfim... O fato é que muitas novidades interessantes foram lançadas e introduzidas em meados de 50 e extendida nos anos 60, as quais causavam alvoroço em toda criança daquela geração! Bonecas e brinquedos modernos, interativos, que fazia mil coisas, com mil habilidades e surpresas, que andavam, choravam, riam, dormiam, falavam, faziam xixi e muito mais, tudo a fim de suprir os desejos dos pequenos que estavam cada vez mais exigentes, querendo brinquedos mais dinâmicos, criativos, com aquele toque mágico e mais próximos da realidade. Dentre os produtos principais, dando destaque para os lançados nos anos 60, estava a Beijoca (1962), a boneca que contraía os lábios e dava doces beijinhos. Gui-Gui (1968), a primeira boneca mecânica, que ria e movia os olhos e a cabeça de um lado para o outro quando você abria e fechava seus bracinhos. Tagarela (1963), a boneca prodígio que falava várias frases diferentes. A marca também introduziu o conceito de "fashion doll", por meio da Susi (1966), a idéia era a mesma da Barbie, uma "boneca-manequim", que anda na moda, com acessórios e própria para vestir e mudar as roupinhas. Bonecas temáticas inspiradas em personagens de filmes e artistas foram apresentadas nessa época, Mary Poppins (1964) da Walt Disney, Leda Maria Vargas (1963) a Miss 63, Wanderléa "Wandeka" e Erasmo Carlos "Tremendão" (1967) da Jovem Guarda, são exemplos. Além disso, a inesquecível Amiguinha (1960), que parecia uma criança de 3 anos por conta dos seus 90 centímetros de altura, as frases de propaganda a chamavam de "a boneca menina". Por fim, não poderia deixar de mencionar o clássico Autorama (1963), um brinquedo elétrico bastante famoso com pistas de corridas e carrinhos em miniaturas para desafiar as habilidades da criançada, a grande fama do brinquedo alcançou o feito de estar hoje sendo citado em todos dicionários.Inclusive, foi especialmente nessa época, final dos anos 50 para 60, que a empresa se consolidou no Brasil, conquistando cada vez mais espaço e prestígio e consequentemente tornando-se exemplo de qualidade e inovação. Obviamente que existiam outras marcas concorrentes também, sendo elas Gulliver, Glasslite, Atma, Trol, Bandeirantes, Mimo, Balila, etc. Mas a Estrela, sempre era a que mais se destacava, em todos os sentidos e quesitos.
-Um pouco sobre como iniciou a tradicional fábrica da Estrela
A empresa, tem como protagonista basilar Siegfried Adler, um alemão judeu que fugia da ascendência nazista ao poder implantada por Adolf Hittler, onde traçou seu destino como imigrante para o Brasil. Siegfried e sua família chegaram aqui não há precisão do ano ao certo, mas foi entre 1933 à 1937. Sem praticamente nada no bolso, e buscando uma forma de ganhar a vida na grande cidade, Siegfried começou vendendo um tipo de tampa de garrafa, sugestão coordenada por um amigo. Passou então, a procurar clientes para esse produto, e até que no final se saiu bem. Mas, Siegfried, um tanto insatisfeito com o trabalho de vender tampinhas de garrafa, porque achava "muito chato", perguntou ao seu amigo se ele não sabia de algo melhor para ele fazer. Nisso, o amigo contou que havia uma oficina de bonecas que estava falida, e talvez ele pudesse ajudar... Foi aí que Siegfried Adler vislumbrou a oportunidade perfeita para engrenar o seu negócio, não perdendo tempo, logo iniciou as atividades na fábrica que adquiriu no dia 25 de junho de 1937, localizada em São Paulo, na rua Santa Clara, bairro do Brás, Zona Leste, próximo a região central. Por apenas 4 contos de réis, Siegfried conseguiu quatro máquinas de costuras para oficina, que tinha inclusive um sobrado, onde embaixo funcionava uma escola de samba que curiosamente herdou o mesmo nome da oficina anterior que antes era de propriedade do italiano Constantino Tonatti, de "Manufatura de Brinquedos Estrella Ltda" (a ortografia antiga da marca era escrita com dois "L", seguiu assim oficialmente até 1944). Inaugurada de início com cerca de 20 funcionários, transformou-se em uma espécie de fábrica dos sonhos com seus brinquedos maravilhosos e encantadores. Com os anos, a Estrela acompanhou gradativamente a evolução indústrial no país, passando a fabricar diversos brinquedos, enfatizando a categoria de bonecas, com outros tipos de materiais, lá para meados de 1950, com o advento do plástico, vinil (borracha), metal e outros, além do uso de apenas pano, madeira e massa (cópia da porcelana). Meu Brotinho e Pupi, que entraram no catálogo de 1953 ou 1954, foram umas das primeiras bonecas a serem fabricadas em matéria plástica da história da Estrela, um marco extraordinário, sem dúvidas. As bonecas feitas com essa nova composição eram chamadas de "Plastrela". Claro que esta evolução não deve-se somente a novidade do plástico e etc, mas também no que diz respeito ao estilo dos brinquedos a partir da década de 50, trazendo mais sofisticação técnica de tudo que já produziu, com outras descobertas após o fim da guerra, sendo elas mecânicas, elétricas e eletrônicas, propiciando muita ousadia, muita novidade e criação, verdadeiras maravilhas de tudo aquilo que abrange o mundo dos brinquedos. Na sequência, surgiram bichinhos e brinquedos inteiramente de vinil, mais maleáveis e flexíveis, geralmente com apito que assobiava quando apertado, indicados para bebês e crianças pequenas. Na mesma época, com o surgimento do plástico, fugindo agora completamente da temática "brinquedos e bonecas", para facilitar e deixar o dia-a-dia da "mulher do lar" mais prático, a Estrela lançou a linha chamada "Duraflex", eram produtos domésticos que tinham como qualidade a duração, maciez, e não fixação de cheiros. A gama de produtos dessa coleção era enorme! Incluía canecas, copos, jarras, saladeiras, potes, esterinha para descanso de copos, prendedores de roupas, cabides, entre outros artigos fabricados em plástico...
Uma curiosidade bem legal que vale a pena recordar sobre a Estrela, é que foi ela a responsável por fomentar o Dia da Criança em 12 de outubro, data essa oficial do Brasil. Existem algumas dissonâncias que certifiquei nessa história, entre a Estrela e a Johnson & Johnson, apesar disso vou narrar a mais corriqueira encontrada como referência por aí, inclusive se alguém quiser discutir sobre, fique à vontade. A celebração do Dia da Criança na realidade já existia desde 1924, quando o presidente Artur Bernardes sancionou um decreto idealizado a princípio pelo deputado federal Galdino do Valle Filho, oficializando o 12 de outubro como uma data dedicada aos pequenos. Porém, mesmo com todas formalidades, o evento era um dia comum como qualquer outro, praticamente desconhecido tanto para consumidores quanto para lojas e empresas de modo geral, passava literalmente em branco, sem presentes e nem comemorações. Em meados dos anos 50 (não se sabe o ano exato, mas suposições indicam 1955), a Estrela, lançou a publicidade intitulada de "Semana do Bebê Robusto". A campanha ganhou esse nome por padrão estético, pois a linha de bebês daquela época tinham características mais rechonchudas e gordinhas, o que era parâmetro de saúde e beleza. A partir daí, a Estrela começou a usar o tema de Dia das Crianças em 12 de outubro para reavivar a data que passava sempre despercebida e também, logicamente, como estratégia comercial e de marketing para não ficar 100% dependente de gerar lucro apenas no Natal e aumentar as vendas das bonecas da campanha mencionada anteriormente. Anos depois, a iniciativa da Estrela ganhou um apoio fundamental para fincar de vez esse dia tão especial, entre a empresa junto à gigante dos cosméticos Johnson & Johnson, que enalteceu a publicidade em torno da data com o famoso concurso do "Bebê Johnson", que teve a primeira edição no ano de 1965 e que depois se tornou uma das competições de beleza infantil mais memoráveis do Brasil. O negócio deu tão certo, que ao longo do tempo, outras empresas foram aderindo à idéia, aproveitando a data para realizar ofertas e promoções de vendas, bem como centralizar suas ações de publicidade na semana que precede o 12 de outubro. Daí em diante, o Dia da Criança passou a ser o que é hoje, uma das principais datas do calendário brasileiro!
A imagem, tirada em outubro de 1960, é uma exposição organizada pelo representante comercial da Brinquedos Estrela, Curt Metzger, reunindo os principais artigos que estavam se popularizando. A exposição foi realizada em parceria com a falecida Loja Prosdócimo, localizada na Rua 15 de Novembro, em Blumenau, Santa Catarina.
TEXTO E FOTO SÃO DO QUERIDO Toys Antigos QUE SEMPRE NOS PASSA INFORMAÇÕES MAGNÍFICAS SOBRE BONECAS E BRINQUEDOS ANTIGOS EM GERAL! QUE HISTÓRIA!! OBRIGADA POR COMPARTILHAR!!!!