terça-feira, 28 de outubro de 2025

27 de Outubro: dizem que a Ponte do Arco-Íris se abre como um suspiro antigo do céu, e as almas dos animais regressam, brandas, para visitar os corações onde aprenderam a pronunciar a língua silenciosa do amor. É um dia de passos quase inaudíveis na casa: o farfalhar de uma lembrança atravessa o corredor, um tilintar de coleira que só você escuta, o peso inexistente de um corpo que, ainda assim, afunda o sofá e alinha o mundo. Há um perfume de grama molhada e sol na pelagem, um rumor de patas na alma. Eles vêm sem pressa, com a dignidade das manhãs que nunca mais doeram. Trazem nos olhos a fidelidade de sempre, agora tingida de uma claridade mansa, como se o paraíso fosse um quintal sem cercas e sem despedidas. Chegam para dizer, sem som: eu fiquei em você. E você, sem perceber, sorri daquele jeito antigo, acariciando o ar, chamando por um nome que reverbera no teto, nas paredes, nas fotografias. Há uma bênção nessa saudade: ela não é buraco, é ponte; não é ausência, é promessa de retorno. Se puder, acenda uma vela branca e deixe um copo de água ao lado das memórias. Diga o nome dele(a) devagar, como quem devolve à vida um segredo. Conte uma história de chuva e cobertor, de latidos felizes na porta, do silêncio cúmplice das noites. Agradeça pelas madrugadas salvas, pelos passeios que ensinaram o ritmo da Terra, pela alegria que sempre soube chegar antes do pensamento. Prometa honrar essa delicadeza em tudo o que toca: nas pessoas, nas ruas, nas criaturas pequenas do mundo. Quando a janela ficar azul de tardinha, talvez você sinta o focinho encostar no seu pulso, a cauda varrer a sala, os bigodes roçando sua pele como um campo de trigo. Talvez ouça, lá dentro, um ronronar de eternidade. Feche os olhos e permita: a visita acontece quando o amor se recolhe e, humilde, aprende a ouvir. A ponte não é distância: é colo. E, ao adormecer, você saberá, pelo sossego dócil da casa, que eles vieram, beberam da sua luz e voltaram, plenos, a guardar você.

 

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