quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Texto maravilhoso escrito pela Luly Lage do blog "Sweet Luly" em resposta a reportagem feita pela Record sobre colecionadores de bonecas.Vale muito a pena tirar dois minutinhos para lêr!!

Mas… Você brinca de boneca?


Quando eu era criança passava uma parte muito significativa do meu tempo brincando de Barbie, era minha atividade favorita na vida sem sombra de dúvidas, e isso se estendeu pelo início da adolescência também, na fase clássica de ter vergonha de admitir isso pras minhas amigas. “Essa vai ser sua última boneca, Lulu!” foi uma frase que minha mãe me disse várias vezes nesse período, porque ao mesmo tempo que ela tinha medo de que eu continuasse muito “infantil” não queria me poupar do que eu mais gostava quando pudesse, e não poupou. Mesmo depois que eu cresci e parei de realmente brincar, ou seja, sentar no chão e criar histórias com elas, isso continuou sendo recorrente, até meu presente por ter passado no vestibular foi uma Barbie, a “Princesa Luciana”, porque tinha meu nome e tudo mais. Pouco tempo depois eu comecei a colecionar Pullips e similares e isso qualquer um que me conhece um pouquinho sabe, elas são parte frequente na minha vida que faço questão de não esconder e viver intensamente, vira e meche posto foto das danadas ou mesmo das miniaturas que “complementam” esse universo delas. Já são 7 anos disso, 7 anos sem receio de admitir que bonecas em escala 1/6 de vários tipos são uma grande paixão minha, e desde o início eu já perdi as contas de quantas vezes eu tive que explicar que aquilo não me fazia mal, que eu não sou louca frustrada com a vida, que nos nossos encontros ninguém senta pra fazer chazinho “mamãe e filhinha” (e se fizesse também, hunf, azar o nosso!), que é um hobby como qualquer outro. Perdi as contas de quantas vezes tive que escutar, mesmo que a pessoa tivesse completamente encantada com elas, essa típica pergunta que quem faz até sente medo da resposta: “Mas, no final das contas, você AINDA brinca de boneca? É isso mesmo?”.
Você brinca de boneca?
É engraçado porque os “costumes infantis” que a sociedade julga ser “de menino” que são mantidos todo mundo lida como se fosse normal, mas os “de menina” não. Na minha cabeça a separação não devia existir, qualquer criança poderia brincar do que quisesse, mas na vida real ainda existe esse tipo de direcionamento, e o tempo que é aceitável continuar gostando da coisa também é diferente. O menino crescer e continuar gostando de futebol, video game, carros e afins tudo bem, é normal, conheço vários homens que colecionam miniatura, Lego, aeromodelos, action figures, toy art, a lista é tão extensa que nem vale a pena continuar. Mas e se a menina continua gostando de bonecas? Ah, aí é um problema! É ridículo, ela já passou da idade, devia estar pensando em namorar ou algo assim, vê se pode uma marmanja gastando dinheiro com uma coisa dessa, não tem louça pra lavar não? Eu já cheguei no ponto de ouvir da boca de parentes que COLECIONAM CARRINHOS que isso não era legal. E apesar de estar absolutamente nem aí para a opinião dessa gente ainda assim eu me questiono POR QUE não é legal? Em que momento minhas bonecas feriram a integridade de alguém? De que maneira o fato de eu comprar vestidos pra elas, e não para mim, ofendeu tão profundamente as pessoas? “Você tem dinheiro suficiente nessas bonecas pra comprar uma moto”, e de que isso adianta se foi ao gastar com elas que fiquei feliz? Alguém consegue, por favor, me explicar isso?
Eis que esse domingo minha mãe me chamou correndo para assistir televisão com ela porque estava passando uma matéria sobre o assunto na Record, que fiz questão de assistir inteira. O resultado? Bom, de acordo com o que vi ali nós somos loucas desequilibradas, vivemos fora da realidade, precisamos de apoio psicológico ou psiquiátrico e temos “falta de criança”. E como se não fosse ruim o suficiente esse preconceito externo nos julgando rolou o interno também: as próprias colecionadoras de bonecas menores ficaram ofendidas por terem sido colocadas no mesmo “patamar” de um casal que trata suas reborns, que são bebês super convincentes em tamanho real, como se fossem seus filhos. Gente, é sério isso? Ok, algumas coisas eu pessoalmente não acho legal, assim como em todos os assuntos da vida, mas quem sou eu, vocês ou mesmo um canal de televisão para julgar como as pessoas vivem ou deixam de viver sem causar nenhum mal a ninguém? Por favor, é diante de situações assim que nós devemos nos juntar para dar força e mostrar a todos que o que nos faz bem é única e exclusivamente da nossa conta! Isso me fez perceber que o preconceito é tão grande que até quem sofre com ele pode sentir, às vezes.
E quer saber a resposta pra tal pergunta tão repetida? Eu brinco de boneca SIM! Pode não ser da maneira “tradicional” com a qual brincava quando ainda era uma mini Luly, mas dou nomes a elas, deixo que elas ganhem sua personalidade, adoro criar histórias, me divirto HORRORES fotografado essas cabeçudas e outro dia eu e uma amiga que “arrastei” pra esse mundo comemoramos o aniversário do Reginald, Isul que ela me deu de presente, com bolo e muita risada, só pra curtir mesmo. Isso não me impede de trabalhar, estudar, ter uma vida saudável e nem de me relacionar com as pessoas, pelo contrário! Muitos dos grandes amigos que tenho hoje conheci foi por causa delas, mesmo que beeeeem indiretamente, então o resultado final foi totalmente positivo, e vai continuar sendo! E se ainda assim rolar a encheção de saco a gente apela pro clássico “quem gasta dinheiro com isso sou eu, e não você” e sai sorrindo bem prontinha pra continuar amando e se encantando com foto de outros colecionadores nas internets da vida, porque eita atividade gostosa que lava a alma e inspira!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.