"Teremos bonecas com deficiência físicas, com prótese na perna e com cadeira de rodas. Estamos muito animados com esses lançamentos", diz Lisa. Em 1997, a Mattel lançou uma boneca cadeirante chamada Becky, que era amiga da Barbie. O problema: Becky não cabia na Dreamhouse da Barbie; sua cadeira de rodas não passava pela porta nem entrava no elevador, o que, segundo reportagens da época, fez a marca desistir da produção.
Atenta a isso, a Mattel vem há alguns anos investindo em bonecas com cabelos crespos, cacheados, coloridos, também negras e plus size --mesmo que ainda não cheguem perto de representar uma mulher gorda.
"Queremos ter certeza de que há espaço para que as meninas possam se ver na nossa linha de bonecas. Barbie está sempre evoluindo e refletindo o que acontece culturalmente. Ela mostra a moda, a beleza e os movimentos sociais da época. Mais recentemente estamos muito orgulhosos da evolução do corpo da Barbie, que nós sabíamos que nos daria a oportunidade de criar mais variedade e diversidade", afirma Lisa.
O envelhecimento da mulher é outra questão importante na feminilidade, e Barbie, afinal de contas, está chegando à terceira idade. Ela finalmente pode envelhecer? "Nós amamos homenagear as mulheres que estão envelhecendo e se reinventando", afirma Lisa. "Queremos associar a Barbie a essa sensibilidade. A boneca tem se reinventado a cada cinco ou dez anos, e nós temos interesse em celebrar mais mulheres como Iris Apfel [ícone de moda nos EUA, de 97 anos, que já teve uma boneca em sua homenagem]. Somos muito inspiradas por Hillary Clinton, Jane Fonda e Gloria Steinem, mulheres que têm múltiplos capítulos em suas vidas".
Barbie foi criada em 1959 pela americana Ruth Handler (1916-2002). Desenvolver uma boneca adulta e com formas femininas, quadril e seios, foi bastante corajoso para a época, quando as meninas costumavam brincar com reproduções de bebês.
Grande empreendedora, Ruth criou, ao longo da vida, sempre em parceria com o marido, Elliot Handler (1916-2011), quatro empresas, uma delas a Mattel, ainda na década de 1940. Na época, idealizou ainda os primeiros brinquedos feitos de componentes reciclados. Na década de 1950, o destaque foi a contratação de mulheres de diferentes etnias e, nos anos 1960, foi pioneira em segurança.
Mãe de Barbara e Kenneth, que inspiraram os nomes de Barbie e Ken, Ruth sempre quis que a boneca fosse um exemplo profissional para as meninas, encorajando-as a ser o que quisessem. "Ruth era uma mulher muito moderna e progressista para aquele tempo. Então, esses são atributos que ainda tentamos perseguir quando pensamos no futuro da marca", diz Lisa.
Barbie já teve mais de 200 profissões, segundo a diretora geral, e homenageou muitas mulheres pioneiras em suas áreas de atuação. "Temos celebrado mulheres reais que estão trabalhando nessas carreiras, pois achamos que é poderoso para as meninas. Quando elas veem essas mulheres fazendo coisas incríveis, têm mais fé de que podem de fato realizar seus sonhos."
Heroínas da vida real
A Mattel vem trabalhando com o conceito de Sheros --no inglês, a palavra herói é hero, sendo que "he"significa "ele" e "she"significa ela. A ideia do projeto é homenagear mulheres inspiradoras e pioneiras transformando-as em bonecas."Há muitas mulheres incríveis por aí. Mas nós tentamos nos concentrar em mulheres que estão fazendo coisas que ainda são desconhecidas, que estão superando barreiras e estabelecendo um exemplo real para as meninas, mostrando as elas que tudo é possível. Então, a tendência é que destaquemos mulheres que são as primeiras em seus campos de atuação ou que estejam fazendo algo memorável numa área que tradicionalmente não é representada por mulheres."
Neste ano, por causa do aniversário de 60 anos de Barbie (celebrado em 9 de março, um dia depois do Dia Internacional da Mulher), acontecerá o maior evento global de Shero de todos os tempos. "Vamos celebrar muitas mulheres ao redor do mundo com bonecas. Além disso, teremos uma ação na qual vamos convidar garotas a dividir seus sonhos de ser a primeira em alguma coisa. Mesmo que as meninas estejam vendo mais mulheres como exemplos, perseguindo carreiras em que não tínhamos espaço antes, ainda há muito a fazer. Ainda há muitas primeiras vezes para meninas e mulheres."
Outro projeto em que a marca está investindo é o chamado Dream Gap. "Queremos criar consciência nas meninas, em seus pais, na sociedade, em empresas e nos educadores sobre assuntos que aparecem quando as meninas têm cinco ou seis anos; quando começam a duvidar do brilhantismo de seu gênero", afirma Lisa.
"Além disso, vamos financiar uma pesquisa para entender o porquê desse comportamento, quais são as causas que estão levando as meninas a duvidar de seu gênero e o que podemos fazer a respeito. Nós temos hipóteses que ligam isso a estereótipos, mídia e alguns outros fatores externos, talvez até à falta de exemplos que levem as garotas a não se verem tão brilhantes quanto os meninos."